terça-feira, 23 de maio de 2017

CARTA ABERTA À COMUNIDADE UNIVASFIANA



CARTA ABERTA À COMUNIDADE UNIVASFIANA

Petrolina-PE, 22 de maio de 2017.

O Fórum Acadêmico de Saúde da Universidade Federal do Vale do São Francisco (FAS-Univasf), o Núcleo de Mobilização Antimanicomial do Sertão (NUMANS) e Coletivo de Residências em Saúde vêm contextualizar a intervenção artística realizada no campus sede da Univasf, na última semana, correspondente à elaboração de um grafite que trouxe à tona a discussão sobre a Luta Antimanicomial no Brasil.
            A princípio, consideramos necessário compreender o histórico do grafite no país, que já foi considerado crime, contudo atualmente é legitimado como instrumento de manifestação artística e política. Os primeiros grafites do Brasil surgiram em São Paulo, na década de 70, com imagens que pediam “Diretas Já”. Numa época em que a própria ocupação das ruas era considerada crime, a grafitagem se consolidava como um ato político, em defesa da Democracia Brasileira, apesar de toda repressão.
            Para além da luta contra a Ditadura, o grafite constituiu-se como forma de expressão de jovens da periferia para denunciar iniquidades sociais e assumiu um papel questionador no contexto da sociedade urbana. Durante essa trajetória, as formas de repressão à arte continuaram; no entanto, a resistência de grafiteiras/os foi fundamental para a manutenção da denúncia da violação de direitos e para o embelezamento das cidades brasileiras.
            Nesse sentido, diversas manifestações sociais ocorreram em defesa da manifestação da arte através do grafite, tanto que, em 2011, a presidenta Dilma Roussef sancionou a Lei nº 12.408/2011, que descriminaliza o ato de grafitar.
            É importante destacar que a maioria das universidades brasileiras foi historicamente ocupada pelo grafite como forma de manifestação estudantil e, nesse contexto, é necessário identificar a intervenção realizada na Univasf como um ato sintonizado com uma das formas mais tradicionais de manifestação do Movimento Estudantil, que é a ocupação do espaço universitário por meio da arte.
            Sendo assim, o FAS-Univasf e o NUMANS, em respeito ao histórico do grafite brasileiro e em defesa de uma Univasf mais colorida e questionadora – e por que não dizer, plural e democrática – manifestam-se em defesa do grafite que fomenta o debate sobre a Luta Antimanicomial, defendida por diversos movimentos na Univasf e que deve fazer parte da (trans)formação das trabalhadoras e trabalhadores da saúde. Destacamos que esse sentido é claro, especialmente pela referência direta ao Dia 18 de Maio, que é o Dia Nacional de Luta Antimanicomial.
            Essa mudança da formação das futuras e futuros profissionais de saúde é essencial para que o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) venha ser fortalecido, garantindo a equidade, universalidade e a integralidade, algo complexo de se alcançar, tendo em vista as limitações que existem nos nossos processos de ensino-aprendizagem, ainda centrados na hegemonia do saber biomédico.
            A saúde mental no Brasil passou e vem passando por processos de mudanças constantes. Nosso país foi terreno fértil para uma reforma muito importante dos modos de cuidado a pessoas em intenso sofrimento mental, a Reforma Psiquiátrica, que tomou forma e força em um momento muito importante da nossa história, a redemocratização do país pós-ditadura militar. Esse processo ainda precisa ser fortalecido, sobretudo na atualidade, em razão dos inúmeros retrocessos no cenário das políticas públicas em nosso país.
            É imprescindível discutirmos as formar de cuidar em Saúde Mental, em uma perspectiva antimanicomial, para não retroceder a tempos outros, onde o cuidado era asilar, segregado e violento, marcando profundamente a vida das pessoas que precisavam ser cuidadas.
            A Univasf é um dispositivo importante para a formação em saúde na região, de maneira que esses temas precisam ser trazidos à cena, de variadas formas. Compreendemos que o grafite cumpre essa função, trazendo à tona a discussão de outros modos de cuidado em Saúde Mental, tendo a liberdade como seu maior instrumento de cuidado. Por isso, o FAS-Univasf, o NUMANS E o Coletivo de Residências  apadrinham o grafite, como manifestação artística e ato político, reconhecendo nele uma nobre motivação: a luta contra o confinamento em manicômios e em defesa do cuidado baseado no respeito à autonomia das pessoas.

Cordialmente,

Fórum Acadêmico de Saúde da Universidade Federal do Vale do São Francisco (FAS-Univasf)
Núcleo de Mobilização Antimanicomial do Sertão (NUMANS)

Coletivo de Residências em Saúde


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