Petrolina-PE, 22 de maio de
2017.
O Fórum
Acadêmico de Saúde da Universidade Federal do Vale do São Francisco
(FAS-Univasf), o Núcleo de Mobilização Antimanicomial do Sertão (NUMANS) e
Coletivo de Residências em Saúde vêm contextualizar a intervenção artística
realizada no campus sede da Univasf, na última semana, correspondente à
elaboração de um grafite que trouxe à tona a discussão sobre a Luta
Antimanicomial no Brasil.
A
princípio, consideramos necessário compreender o histórico do grafite no país,
que já foi considerado crime, contudo atualmente é legitimado como instrumento
de manifestação artística e política. Os primeiros grafites do Brasil surgiram
em São Paulo, na década de 70, com imagens que pediam “Diretas Já”. Numa época
em que a própria ocupação das ruas era considerada crime, a grafitagem se
consolidava como um ato político, em defesa da Democracia Brasileira, apesar de
toda repressão.
Para
além da luta contra a Ditadura, o grafite constituiu-se como forma de expressão
de jovens da periferia para denunciar iniquidades sociais e assumiu um papel
questionador no contexto da sociedade urbana. Durante essa trajetória, as
formas de repressão à arte continuaram; no entanto, a resistência de
grafiteiras/os foi fundamental para a manutenção da denúncia da violação de
direitos e para o embelezamento das cidades brasileiras.
Nesse
sentido, diversas manifestações sociais ocorreram em defesa da manifestação da
arte através do grafite, tanto que, em 2011, a presidenta Dilma Roussef
sancionou a Lei nº 12.408/2011, que descriminaliza o ato de grafitar.
É
importante destacar que a maioria das universidades brasileiras foi historicamente
ocupada pelo grafite como forma de manifestação estudantil e, nesse contexto, é
necessário identificar a intervenção realizada na Univasf como um ato
sintonizado com uma das formas mais tradicionais de manifestação do Movimento
Estudantil, que é a ocupação do espaço universitário por meio da arte.
Sendo
assim, o FAS-Univasf e o NUMANS, em respeito ao histórico do grafite brasileiro
e em defesa de uma Univasf mais colorida e questionadora – e por que não dizer,
plural e democrática – manifestam-se em defesa do grafite que fomenta o debate
sobre a Luta Antimanicomial, defendida por diversos movimentos na Univasf e que
deve fazer parte da (trans)formação das trabalhadoras e trabalhadores da saúde.
Destacamos que esse sentido é claro, especialmente pela referência direta ao Dia 18 de Maio, que é o Dia Nacional de Luta Antimanicomial.
Essa
mudança da formação das futuras e futuros profissionais de saúde é essencial
para que o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) venha ser fortalecido, garantindo
a equidade, universalidade e a integralidade, algo complexo de se alcançar,
tendo em vista as limitações que existem nos nossos processos de ensino-aprendizagem,
ainda centrados na hegemonia do saber biomédico.
A
saúde mental no Brasil passou e vem passando por processos de mudanças
constantes. Nosso país foi terreno fértil para uma reforma muito importante dos
modos de cuidado a pessoas em intenso sofrimento mental, a Reforma Psiquiátrica,
que tomou forma e força em um momento muito importante da nossa história, a
redemocratização do país pós-ditadura militar. Esse processo ainda precisa ser
fortalecido, sobretudo na atualidade, em razão dos inúmeros retrocessos no
cenário das políticas públicas em nosso país.
É
imprescindível discutirmos as formar de cuidar em Saúde Mental, em uma
perspectiva antimanicomial, para não retroceder a tempos outros, onde o cuidado
era asilar, segregado e violento, marcando profundamente a vida das pessoas que
precisavam ser cuidadas.
A
Univasf é um dispositivo importante para a formação em saúde na região, de
maneira que esses temas precisam ser trazidos à cena, de variadas formas.
Compreendemos que o grafite cumpre essa função, trazendo à tona a discussão de outros
modos de cuidado em Saúde Mental, tendo a liberdade como seu maior instrumento
de cuidado. Por isso, o FAS-Univasf, o
NUMANS E o Coletivo de Residências apadrinham o grafite, como manifestação
artística e ato político, reconhecendo nele uma nobre motivação: a luta contra o
confinamento em manicômios e em defesa do cuidado baseado no respeito à
autonomia das pessoas.
Cordialmente,
Fórum
Acadêmico de Saúde da Universidade Federal do Vale do São Francisco
(FAS-Univasf)
Núcleo de
Mobilização Antimanicomial do Sertão (NUMANS)
Coletivo de
Residências em Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário